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terça-feira, 2 de abril de 2013

Criança.

Outro dia vi no facebook, a definição de avô, feita por uma menina de sei lá, uns 8 anos.
E eu achei incrível a simplicidade com que a menina escreveu. Achei incrível porque mesmo simples era de uma veracidade e de uma delicadeza absurdas.
E fiquei pensando nos meus avós.
E deu saudades.
Porque eu sempre fui doida pelos meus avós.
Dona Lidia e Seu Luciano foram as pessoas mais deliciosas do planeta.
E eu fui criança.
Não essas crianças de hoje em dia.
Eu fui criança mesmo.
Criança dopé sujo, criança que comia bolo quente, que descascava mexerica do pé, que ficava sentada na mureta da casa de praia contando os carros que passavam pelas cores e competindo com meu avô.
Fui criança rica em diversão, em pureza.
Fui criança rica em ser criança.
Fui criança de escolher sorvete de garrafa. Daqueles de groselha. Alguém ainda se lembra de sorvete de garrafa, de barraquinha?
Fui criança de suco de plástico em forma de dinossauro, aviãozinho, urso polar.
Fui criança de almanaque da Mônica, criança de chocolate surpresa.
Criança de bolo quente com calda que escorria pela boca e minha avó vinha limpar a lambança com guardanapo.
Fui criança de álbum de figurinhas.
Tá, tudo bem, até hoje coleciono os da Copa.
Fui criança de bonecas, panelinhas, barbies, nenês gigantes...
Fui criança de pega pega, esconde, queimada e taco.
Fui criança de patins de tênis e depois fui criança de patins tardicional.
Fui criança de acreditar em papai noel, em acreditar em coelho da páscoa, em acreditar em fada dos dentes.
Fui criança de banho de mangueira, de fotos tiradas naqueles carrinhos em forma de patos na praia, que a gente tinha que colocar no olho pra ver, sabe qual? Um mini binóculo?
Pois é.
Fui criança de foto em mini binóculo.
Fui criança de milho verde na espiga, e não no pratinho.
Fui criança de jogo de varetinhas.
Fui criança de livros de colorir, de canetinhas, de lápis de cor.
Fui criança de ir ao teatro e quando na praia, aos parques que por lá se instalavam e faziam sangrar o nariz no carrinho bate bate.
Fui criança de pipoca doce, criança de brigadeiro de colher, ainda quente e maçã do amor.
Fui criança de ter animais, de ver pouca televisão e brincar mais.
Fui criança de ir deitar ainda suja de tão cansada.
Fui criaça de levar um carrinho de feira igual ao da minha avó, e colocar uns alimentos para que eu carregasse.
Fui criança de armar arapuca pra passarinhos.
Fui criança de ganhar pintinhos em feiras de animais e depois fui criança de vê-los morrer, tão frágeis.
Fui criança de um deles ter vingado e eu poder criá-lo na casa da minha avó, e ele virou um frangão, maior lindo.
Fui criança de fazer castelinhos na areia.
Fui criança de recolher conchinhas na praia.
Fui criança de não poder entrar na piscina após o almoço porque ia dar congestão.
Rá.
Fui criança de pintar com guache, de fazer bola de meia, de brincar de gato mia.
Fui criança de sentar no colo do papai noel nos shoppings.
De ver estrela e acgar que era ele, no dia de natal.
Fui criança de dormir com naninhas.
Fui criança de ouvir estórias até dormir.
Fui criança de comer goiaba sem lavar.
Fui criança de levar lancheira pra escola e as bisnaguinhas ficarem meio rosadas porque a groselha da garrafinha vazava, ás vezes.
Fui criança de participar de gincanas em hotéis.
Fui criança de andar de bodinho nas cidades do interior.
Fui criança de ir ao circo, de ver macacos, elefantes e achar a maior graça neles.
Fui criança de morrer de rir com palhaços.
Fui criança de depilar as pernas do meu avô.
Fui criança de colecionar meu querido pônei.
Fui criança de andar de bicicleta e me esborrachar no chão.
Fui criança de me fantasiar no carnaval e jogar bixiguinhas de água.
Fui criança de ouvir estórias de terror na praia, com todos os primos reunidos.
Fui criança de molhar o pão com manteiga no toddy.
Fui criança de procurar os ovos de páscoa mesmo morando em apartamento.
Fui criança de ir pra Disney e me encantar achando que os bichos eram de verdade.
Fui criança de fazer excursões na escola.
Fui criança de jogar peteca, peão e bolinha de gude.
Fui criança de me lambuzar com um docinho vermelho em forma de chupeta.
Fui criança de comer zilhões de dadinhos enquanto assistia Glub Glub.
Fui criança de ter cachorro, gato, hamster, papagaio.
Fui criança de tomar leite da vaca, recém tirado.
Fui criança de brincar na terra.
Fui criança de comer tatu bola, caçar minhoca, fazer bolinhos de terra molhada e brincar de comércio.
Fui criança de experimentar fazer uma receita de bolo e só pedir ajuda quando fosse colocar no forno.
Fui criança de brincar de corre cotia.
Fui criança de gargalhar até a barriga doer.
Fui criança de brincar de casinha como quase todas as meninas e ter filhinhos, e ter marido.
Fui criança de verdade. Criança sem malícia, criança sem tecnologia, criança sem querer namorar, sem querer passar batom, sem querer botar peito.
Fui criança antiga.
Criança delícia.
Criança que se sabe criança e não interfere na vida dos pais.
Criança cujo pediatra não coloca regras alimentares absurdas, que todo os adultos de antigamente faziam e tão aí, todos vivos.
Fui criança rica em felicidade.
Fui criança de pais bacanas, avós doces e irmã carinhosa.
Fui criança de valores, criança que gostava de ser criança.
E isso eu mantenho.
Mantenho o brilho no olhar e faço as coisas com gosto.
Fui criança livre, criança que acredita em mágica.
Criança que acredita que o mundo é um lugar bom.
Criança que ficou adulta, e que estando adulta, ainda ouve muito a criança que mora em mim.
Porque a Bruna criança não morreu.
Eu só sei quando entra uma e quando deve entrar a outra.
E estando adulta, a criança que mora em mim sonha com o dia que tendo uma criança, essa criança possa ser tão feliz quanto eu fui...






13 comentários:

Dani Carnavale disse...

Lindo o seu texto Bru!
Eu também fui uma criança que soube ser criança.
Tenho pena das crianças de hoje que não sabe o quanto é bom brincar na rua, se sujar, encarnar nos amigos sem ser taxado de bullying e tal...
Que a criança que vive dentro de você nunca morra, pois criança tem alma pura.

DECA disse...

Nem sei o que escrever exatamente...
Seus teztos me arrebatam tanto, que enquanto leio tenho mil comments maravilhosos pra fazer, mas qdo termino fico assim: muda!
AMOOOOOO.... Amo ler seus textos
E: tb fui crianca feliz, exatamente como vc!

Eula disse...

"Deixem que as crianças venham a mim e não proíbam que elas façam isso, pois o Reino de Deus é das pessoas que são como estas crianças"

Nunca deixe a criança que existe em você morrer, pois assim seu lugarzinho no céu está garantido! Bj

Gharcia disse...

Achei o máximo este texto.
Maior bom.
Não fiz a metade das coisas desta lista pq sou uma criança do centro de SP, mas, com na música, toda vez q eu balanço, a minha criança vem pra me dar a mão.
Grato pelo momento bom de ter lido este texto.

Vanessa N. disse...

Putz, eu vi essa definição de avô e bateu uma saudade gigantesca do meu.
Adoro quando você escreve esses posts lembrando as coisas da infância, porque eu fui criança que nem você.
Criança de pé no chão e terra até os cabelos, de joelho ralado e um medo danado do Merthiolate que ardia.
Bons tempos, boa infância, boas recordações.
Bjo!

..Mônica.. disse...

ai Bru, amei seu texto, e tenho absoluta certeza que a sua criança será tão feliz quanto você foi! :)

Sabrina disse...

Eu tbm fiz a maioria das coisas que vc fez. O época boa! Adorava jogar taco, brincar de vender coisas, comer pacote de bolacha vendo desenho... Tbm tive um pintinho!!! Rsrs.
Ótimas lembranças me veio agora...
Lindo post! Bj

closet da fla disse...

Ah Bruna que lindo esse texto que vc escreveu. Me emocionou, parece que me vi nele, relembrando algumas coisas que tb fazia quando criança, brincadeiras na rua com a molecada toda, era muita alegria. Muitas saudades desse tempo. Hoje meu filhote não faz nem um terço disso tudo, uma pena. Bjs querida adorei o post.

LuTTy disse...

Ahn, que lindo! Que sua(s) criança(s) seja(m) tão feliz(es) como você foi!!! Bjs

Nubia disse...

Muito bom ter sido criança assim,
Reinaldo e Amanda mandaram muito bem! Hoje em dia além das coisas terem mudado muito alguns pais não permitem e nem fazem questão de uma infância dessa para os filhos...isso é muito triste!
Agora, cá entre nós, futuros pimpolhos terão Ribeirão e interior de Minas pra se esbaldarem, né!? Olha que beleza! hahaha
Beijos!

Carlinha disse...

ah, que delícia lembrarmos da infância.
Éramos felizes e não sabiamos. kkkk
Tinhamos uma pressa de crescer.
bjs.
Carla

Déia disse...

Que lindo!!!!!!!! Quase chorei, fui criança desse mesmo jeito, me deu muitas saudades dos meus avós! Minha mãe passava toalha úmida em mim pra eu poder dormir "meio limpinha", pois desmaiava de tão cansada de brincar!

Terry Tadokoro disse...

Lindo Bru!!!! Delicia de texto.
Tou super atrasada na leitura do blog....estou colocando em ordem aos poucos....